

Em meio ao caos em Cabul, com o aeroporto da capital sendo a única rota de fuga diante da tomada da cidade pelo Talibã, a pergunta que o mundo se faz é: o que virá agora que a milícia fundamentalista islâmica, que jogou o país de volta à Idade das Trevas por cinco anos, voltou ao poder? (Extraído do texto de Rodrigo Lopes, de ZH)
Parte da resposta está no histórico do Talibã, que, de 1996 a 2001, governou o Afeganistão: uma interpretação do Islã e sua aplicação legal pela sharia, violação de direitos humanos, proibição de mulheres de frequentarem centros acadêmicos e de meninas de irem às escolas, obrigatoriedade do uso da burca para elas (o que diante do terror do regime muitas vezes era uma proteção contra abusos, além de tradição da etnia pashtun), barba para eles, execuções em praça pública e destruição de bens culturais. Em resumo, um regime fechado ao mundo.

Nesse novo momento, há também preocupação com pessoas que, ao longo desses 20 anos, trabalharam para as forças ocidentais (só para os Estados Unidos seriam 18 mil afegãos). Grupos que voltam ao poder, após serem afastados por anos, costumam ser vingativos.
Outra parte da resposta é que o retorno do Talibã ao poder facilita a reorganização de grupos terroristas internacionais. Não esqueçamos que o motivo principal de sua derrota em 2001, sob bombas americanas, era o fato de a milícia ter abrigado Osama bin Laden e a Al-Qaeda.

Ainda que a organização responsável pelos atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos seja hoje mais uma inspiração para extremistas do que uma força real, alguns remanescentes do grupo ainda permanecem junto ao Talibã no Afeganistão ou nas zonas tribais paquistanesas.
O Talibã também abriu as portas de prisões onde estavam detidos ex-combatentes da Al-Qaeda e do Estado Islâmico (EI). Ainda há indícios de migração de extremistas da Síria e do Iraque para o Afeganistão. Ou seja, o país pode rapidamente voltar a ser um imã para terroristas.
Há perguntas que só os próximos dias irão responder: a legitimidade que o Talibã terá em nível internacional (a China já prometeu relações). E, para ter algum nível de reconhecimento do mundo para garantir trocas comercias e a sustentabilidade do regime, a milícia terá de moderar sua atuação.
