Porto Alegre (RS) – Após duas décadas vivendo no silêncio total, Flavio Fermiano Fidelis, de 53 anos, voltou a ouvir graças a uma cirurgia inédita no RS. O procedimento, feito no Hospital Moinhos de Vento, implantou um dispositivo auditivo diretamente no tronco cerebral, sendo a primeira vez que essa técnica foi realizada no Estado.
— Esperei muito tempo por isso, desde que perdi a audição aos 30 anos. Coisas simples, como conversar com meu filho, agora são possíveis — comemora Flavio, que mora em Torres e trabalha como estoquista.
Flavio tem neurofibromatose tipo 2, uma condição genética que provoca tumores nos ouvidos e compromete os nervos auditivos. Por isso, ele não podia usar aparelho auditivo comum nem implante coclear (o chamado “ouvido biônico”). A única alternativa era o implante auditivo de tronco cerebral, indicado para casos mais graves e específicos.
Segundo o otorrinolaringologista Joel Lavinsky, responsável pela cirurgia, o procedimento é delicado e envolve estruturas vitais na base do crânio. O implante leva o som diretamente aos núcleos auditivos do tronco cerebral, contornando o ouvido e o nervo danificado.
— Muitas vezes, sair do silêncio absoluto já é uma grande vitória. A qualidade de vida melhora muito — explica o médico, que também é professor da UFRGS e presidente da Associação Gaúcha de Otorrinolaringologia.
A cirurgia foi feita em duas etapas: uma no ano passado e um ajuste no início deste ano. Primeiro, foi preciso remover os tumores. O implante foi ativado há dois meses e, desde então, os resultados vêm melhorando. Fidelis já consegue perceber sons e começa a entender algumas palavras e frases.
Habituado à leitura labial, Flavio conta que perdeu a audição de forma gradual. Durante anos, a cirurgia só era feita em São Paulo, com alto custo. Depois de ter o pedido negado pelo plano de saúde e pelo SUS, ele entrou na Justiça. Após 10 anos de espera, conseguiu uma decisão favorável que garantiu a realização do procedimento em Porto Alegre, com apoio de especialistas paulistas.
— O procedimento foi perfeito. Sem dor, poucos dias na UTI. Superou minhas expectativas, porque havia risco de não funcionar — relata.
Agora, ele segue em acompanhamento com fonoaudiólogos para ajustes no implante.

Além de Lavinsky, participaram da equipe o neurocirurgião Gustavo Isolan e a fonoaudióloga Natália Fernandes, com supervisão dos médicos Ricardo Bento, Marcelo Prudente e da fonoaudióloga Valéria Goffi, todos da USP.
Segundo Lavinsky, ainda há poucos casos como esse no Brasil, e trazer esse tipo de cirurgia para o Estado abre novas possibilidades:
— Felizmente, hoje conseguimos reabilitar praticamente todos os casos de surdez. Até nos mais graves, como o de Flavio, existe o que fazer. Ter essa opção no Rio Grande do Sul é um avanço fantástico.
GZH
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