Guaxupé, Minas Gerais – A maior cooperativa de café do país, a Cooxupé (Cooperativa Regional dos Cafeicultores de Guaxupé), bloqueou a matrícula de cinco produtores flagrados usando mão de obra em condições análogas à escravidão durante a colheita deste ano. Eles estão entre os 15 autuados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) entre abril e agosto.
Entre as 81 vítimas resgatadas em fazendas ligadas à cooperativa estavam uma criança de 12 anos, um adolescente de 16 e um idoso de 72 anos. Os fiscais identificaram problemas como moradia precária, dívidas ilegais e restrição de liberdade — práticas que configuram trabalho escravo segundo a lei brasileira.
Em 2024, a Cooxupé alcançou faturamento recorde de 10,7 bilhões. Do total de 6,6 milhões de sacas de café recebidas, 80% foram exportadas. Para Jorge Ferreira dos Santos, da Adere-MG, organização que acompanha denúncias no campo, a cooperativa deveria ser exemplo de boas práticas. “Eles vendem café como sustentável, mas entre 20% e 40% das denúncias que recebemos envolvem produtores ligados à Cooxupé”, afirmou.
A cooperativa declarou que bloqueia produtores sempre que recebe informação oficial sobre irregularidades e que adota medidas como interromper o recebimento de café e devolver lotes. Também afirmou pautar sua atuação no respeito às pessoas e na dignidade do trabalho.

Casos de exploração
- Criança na colheita: Em Conceição da Aparecida (MG), um menino de 12 anos foi resgatado junto da família em propriedades do produtor Luiz Carlos Avelar. Ele havia deixado a escola para ajudar na safra. Trabalhadores estavam sem registro, sem equipamentos de proteção, água potável e banheiros.
- Promessas falsas: Em Caconde (SP), 19 trabalhadores do Ceará foram levados à Fazenda São Thomaz por um intermediário e acabaram endividados e enganados. O produtor André Pereira Alves alegou que não havia condições de escravidão, mas cumpriu exigências da fiscalização.
- Comida fria no campo: No Sítio Martha Helena, em Conceição da Aparecida (MG), três trabalhadores faziam refeições no chão, sem acesso a água ou banheiros. O produtor Ornelas Borba não respondeu à reportagem.
- Adolescente e idoso explorados: Em Divisa Nova (MG), 47 pessoas foram resgatadas, entre elas um adolescente. Eles recebiam em cheques trocados apenas em um supermercado indicado pelo intermediário. Já em Passos (MG), um idoso de 72 anos e outros dez trabalhadores foram encontrados em condições precárias na Fazenda Engenho Novo.
Problema estrutural
Casos como esses não são novidade. Em abril, quatro cooperados da Cooxupé já haviam sido incluídos na “Lista Suja” do trabalho escravo. Para Jorge dos Santos, os flagrantes revelam apenas parte de um problema maior. “É a ponta do iceberg. A cadeia do café precisa reconhecer que tem um problema profundo nas relações de trabalho”, alertou.
Acompanhe o NP pelas redes sociais:
- Tiktok: @np.expresso
- Comunidade no WhatsApp: Clique Aqui
- Instagram: npexpresso
- Facebook: NPExpresso