(Com base no artigo de Márcio Pereira Cabral, publicado em O Sul)
Nas redes sociais, vídeos com adultos cuidando de bebês reborn — bonecos hiper-realistas que imitam recém-nascidos — vêm chamando atenção. Alimentados, embalados e até levados a consultas médicas, esses bonecos viralizam não só pela estética, mas pela inquietação que despertam. Mais do que simular a maternidade, eles revelam como até o desejo por afeto é transformado em mercadoria, embalado e vendido como um produto para ser exibido. É o afeto sem a presença, o cuidado sem consequência, tudo dentro da lógica de performance que rege a sociedade contemporânea.
Ele viraliza porque não exige vínculo nem frustração
Como aponta o psicanalista Márcio Pereira Cabral, o problema não está no uso íntimo ou simbólico desses objetos, mas em sua função como espetáculo: algo criado para o olhar do outro. O reborn é perfeito para o mundo do post: bonito, silencioso, previsível. Ele viraliza porque não exige vínculo nem frustração — apenas admiração. Nesse cenário, o cuidado se torna uma performance esvaziada, um gesto sem destinatário, repetido para gerar curtidas e engajamento, não para criar laços reais.
O fenômeno dos reborns evidencia uma sociedade que trocou a presença pela imagem e o afeto pela estética.
Assim como carros de luxo ou cafés artesanais, esses bonecos fazem parte do teatro da vida editável das redes, onde tudo deve ser mostrado, mas nada vivido com profundidade. Ao viralizarem, não revelam um desvio individual, mas um acerto perverso: mostram o quanto já aprendemos a desejar aquilo que não nos exige nenhum laço real.
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