Os impactos do uso da lenha

Adriana Gioda é pesquisadora da região que atua na PUC do Rio.

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Nova Esperança do Sul/RS: Adriana Gioda, doutora em Química e pesquisadora da PUC-Rio em parceria com a Fiocruz, esteve no município para estudar os impactos do uso da lenha na saúde e no meio ambiente. Ela voltou à terra natal com a missão de contribuir também com o debate sobre as mudanças climáticas no RS. Em entrevista ao NP Expresso, falou sobre os temas e os riscos que envolvem o uso da lenha.

Qual o objetivo da sua visita à região?

Vim a Nova Esperança para coletar dados sobre o uso de lenha, dentro de uma pesquisa nacional encomendada pelo Ministério da Saúde à Fiocruz. Estou estudando como o uso da lenha afeta a qualidade do ar e a saúde das pessoas.

E essas tragédias climáticas que vêm atingindo o RS já eram previstas?

Sim. Desde 1988, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas já previa eventos extremos. O que está assustando agora é a intensidade: os eventos estão muito piores do que os cientistas esperavam.

A região Sul está seguindo o padrão de extremos que outras partes do mundo?

Sim. Enfrentamos secas severas, depois chuvas sem precedentes, e isso se repete em vários países. A diferença é que regiões como o Sul do Brasil já têm uma certa adaptação ao calor. Já na Europa, por exemplo, as pessoas não sabem lidar com ondas de calor, porque não estavam acostumadas.

De que forma o uso da lenha afeta o meio ambiente?

A queima de lenha emite uma grande quantidade de CO na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global. Aqui na região, no entanto, a maioria das pessoas usa lenha de eucalipto comprada legalmente ou catada, o que minimiza o impacto sobre o desmatamento direto.

E quanto à saúde? A lenha oferece riscos?

Sim. O principal problema não é o CO, mas as partículas finas liberadas na fumaça. Elas causam doenças respiratórias, câncer, pressão alta, diabetes e até demência. A exposição prolongada equivale, em muitos casos, ao efeito de fumar cigarros.

O carvão e outros tipos de combustão sólida têm o mesmo impacto?

Tudo que for sólido e queimado – como carvão, lenha, fogo de chão – emite essas partículas. A fumaça, quando entra pelos olhos e vias respiratórias, causa ardência imediata, mas os efeitos no organismo são silenciosos e duradouros.

Essa pesquisa da Fiocruz está sendo feita só no Sul?

É uma pesquisa nacional. No Sul, a lenha é muito usada por tradição – para churrasco, lareira e fogão a lenha. No Norte e Nordeste, a lenha é usada por necessidade, porque o gás de cozinha é caro e inacessível.

Como foi feita a pesquisa?

Fiquei dez dias coletando dados com apoio da Secretaria de Saúde e dos agentes de saúde. Avaliamos o tipo de lenha usada, os modos de preparo dos alimentos e fizemos medições da qualidade do ar nos ambientes internos das casas.

Qual o recado final que você deixa para quem usa lenha diariamente?

O ideal é buscar alternativas ou melhorar a ventilação dos ambientes. O fogo de chão, muito tradicional aqui, faz parte da cultura, mas é preciso reconhecer os riscos e se proteger. A pesquisa quer justamente ajudar a melhorar a saúde e a qualidade de vida da população.

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