Direto da Escola para a Guerra

Jovens russos de 18 anos saem do colégio e acabam morrendo na guerra da Ucrânia

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Rússia – Uma investigação da BBC News Rússia revelou que pelo menos 245 jovens russos de 18 anos morreram na guerra da Ucrânia nos últimos dois anos. A maioria saiu diretamente da escola para o front, sem passar pelo serviço militar obrigatório, graças a mudanças recentes nas leis que facilitaram o alistamento como soldados contratados.

Sonhos interrompidos

No dia 7 de maio de 2025, alunos da Escola nº 110, em Chelyabinsk, participaram de uma cerimônia pelos 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. Durante o evento, retratos de ex-alunos que morreram na guerra atual foram exibidos. Um deles era Aleksandr Petlinsky, que se alistou duas semanas após completar 18 anos e morreu apenas 20 dias depois.

Sasha, como era chamado pela família, sonhava em ser médico e havia conseguido vaga na Faculdade de Medicina de Chelyabinsk. No entanto, desde os 15 anos, alimentava o desejo de ir à guerra, influenciado pelo início da chamada “operação militar especial” na Ucrânia, em fevereiro de 2022.


Mudanças na legislação e no recrutamento

No início da guerra, o presidente Vladimir Putin prometeu que nenhum jovem de 18 anos, convocado pelo serviço militar obrigatório, seria enviado à Ucrânia. No entanto, poucos dias depois, o próprio Ministério da Defesa admitiu que alguns recrutas haviam sido enviados ao front. A BBC confirmou a morte de pelo menos 81 desses jovens no primeiro ano de conflito.

A partir de 2022, o governo russo alterou as regras para incentivar o alistamento voluntário. Desde 2023, qualquer jovem que completasse 18 anos e tivesse concluído o ensino médio pôde se inscrever diretamente como soldado contratado, sem necessidade de cumprir meses de serviço obrigatório. Como incentivo, autoridades regionais passaram a oferecer bônus em dinheiro para os novos soldados.

Apesar das críticas de parlamentares, como Nina Ostanina, que alertou sobre os riscos para jovens vulneráveis recém-saídos da escola, a legislação foi mantida. Segundo ela, esses adolescentes, em busca de estabilidade financeira, ficam desprotegidos diante da realidade brutal da guerra.


O exército dentro das escolas

Além das mudanças legais, o governo russo também passou a promover o alistamento dentro das próprias escolas. Professores e militares passaram a visitar turmas e distribuir panfletos com mensagens que exaltam a carreira militar. O slogan usado é: “serviço contratado – um futuro de valor”.

Desde 1º de setembro de 2024, uma nova disciplina foi incluída no currículo escolar: “Introdução à Segurança e Defesa da Pátria”. A matéria ensina noções de sobrevivência, primeiros socorros e o manuseio de armas como fuzis Kalashnikov e granadas.


Histórias de jovens que não voltaram

Aleksandr Petlinsky

Aleksandr completou 18 anos em 31 de janeiro de 2025. Em menos de três semanas, pediu licença da faculdade de medicina, assinou contrato com o exército e partiu para o front. Morreu pouco depois. Amigos o descreveram como gentil, determinado e criativo. Gostava de desenhar e chegou a presentear uma colega com um desenho antes de partir para a guerra.

Vitaly Ivanov

Vitaly morava em uma vila remota na Sibéria. Após ser preso e agredido pela polícia por um crime que negava ter cometido, decidiu se alistar no exército. Recebeu um bônus de cerca de 4 milhões de rublos, o equivalente a aproximadamente 50 mil dólares. Com pouco mais de duas semanas de treinamento, foi enviado à linha de frente. Morreu em sua primeira missão, em 11 de fevereiro de 2025.


Números que preocupam

Entre abril de 2023 e maio de 2025, a BBC confirmou a morte de 245 soldados contratados com 18 anos de idade. O número real pode ser maior, já que nem todos os óbitos são divulgados oficialmente. Comparando com outras faixas etárias, o total de mortes é alto: 2.812 entre jovens de 18 a 19 anos e 8.267 entre homens de 45 a 47 anos.

Pesquisas também mostram o distanciamento dos jovens em relação ao conflito. Um levantamento do Centro Levada, feito em maio de 2025, apontou que apenas 35% dos jovens entre 18 e 24 anos apoiam a guerra. Entre os mais velhos, esse apoio aumenta: 42% na faixa dos 40 aos 54 anos e 54% entre os que têm mais de 55.


O silêncio das autoridades

Apesar das denúncias de famílias e parlamentares, o governo russo não respondeu oficialmente às críticas sobre o recrutamento precoce de jovens e a pressão exercida dentro das escolas. Até agora, não houve sinal de que a legislação será revista ou que os casos serão investigados.

Enquanto isso, jovens com pouco tempo fora da sala de aula continuam sendo enviados ao front, com seus sonhos interrompidos antes mesmo de começarem a viver.


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