EDITORIAL: Recursos próprios e milhões desviados?

Quem explica o caso de Jaguari?

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(por João Lemes) A pergunta que fica é como a comunidade vai entender que, em meio a tantos anúncios de investimento e salários em dia, a Polícia Federal agora fala em desvio milionário na gestão do IRDESI no hospital de Jaguari.

Jaguari – RS – (Região de Santiago) Em setembro de 2024 a manchete era outra: mais avanços para a saúde, meio milhão investido, mamógrafo novo, “recursos próprios” e um discurso embalado de modernidade. O diretor Humberto Silva Baccim abriu sorriso, posou para foto e falou em compromisso com a comunidade. Hoje o mesmo personagem aparece algemado em operação da Polícia Federal, apontado como chefe de organização criminosa e acusado de desviar milhões justamente do sistema de saúde que dizia fortalecer.

O anúncio do mamógrafo (veja aqui)

Naquela matéria de 14/09/2024 o tom era de festa. Parceria do Hospital de Caridade de Jaguari com o IRDESI e a CJ Brasil, aparelho de última geração para diagnóstico precoce do câncer de mama, mulheres da região atendidas com mais rapidez. Tudo pago com “recursos próprios da entidade”, segundo o texto oficial. Parecia o enredo perfeito: gestão moderna, equipamentos caros, servidores em dia, fila andando e um diretor que pedia para “compartilhar essa notícia maravilhosa”.

Os números que não fecham

Agora vem a bomba: a mesma gestão aparece no centro de um esquema que, segundo a investigação, desviou mais de 20 milhões e faz parte de um rombo ainda maior, que passa de 300 milhões em várias cidades. Empresas de fachada, notas frias, contratos inflados, viagens, carrões, casamento de luxo. A conta não fecha. Se o dinheiro era tão curto que o hospital dependia de esforço próprio para comprar um mamógrafo, como explicar a vida confortável de quem mandava na estrutura?

A conta que sobra para a comunidade

É claro que o alvo jurídico é o IRDESI e os seus sócios, mas o hospital de Jaguari está dentro do olho do furacão. Quando a notícia estoura, o morador não faz distinção entre instituto, sigla, contrato e CNPJ. Ele vê a placa do hospital, lembra do familiar atendido na emergência, do exame que demorou, do plantão sem médico, e agora descobre que a mesma engrenagem teria servido para drenar dinheiro. A indignação é natural.

Ainda lembro bem da época em que rompeu o contrato com o Hospital de Caridade de Santiago, então administrado por Ruderson Mesquita, que vinha ajeitando o ritmo e revolucionando o atendimento em Jaguari desde o governo de João Mário.

A troca gerou uma baita celeuma

O ex-prefeito Beto Turchiello, seguindo orientação do Tribunal de Contas, suspendeu o contrato com Santiago e abriu licitação. Quem venceu foi o IRDESI. Na época, a imprensa já lembrava que o instituto carregava problemas sérios, inclusive episódios policiais e até prisão anterior de seu diretor. Mesmo assim, tudo seguiu adiante. Hoje, com a operação estourada e Humberto Silva Baccim atrás das grades, a história mostra que os alertas não eram exagero.

O recado que fica

Jaguari não merece virar rodapé de escândalo nacional. Quem ganha com a verdade é a própria comunidade, que acreditou no discurso de “recursos próprios” e de gestão de excelência. Agora, mais do que novas notas oficiais, o que se espera é transparência total: mostrar contratos, explicar números, abrir as contas e dizer, sem rodeio, de onde veio o dinheiro do mamógrafo e de tantos outros anúncios festivos. Porque, depois dessa, toda vez que alguém falar em “recursos próprios”, o jaguariense tem o direito de perguntar: próprios de quem?

Apenas a Polícia Federal e o prefeito Igor Tambara (sim, a prefeitura é dona do hospital) podem nos dizer como está a saúde dessa casa de saúde história.

O que diz o prefeito Igor sobre
a investigação no hospital

De Brasília, o prefeito Igor Tambara falou com a redação e reafirmou que “não há apuração de crimes em contratos da prefeitura de Jaguari”. Ele destacou que o contrato do município “é 100% legal” e que a investigação trata apenas do que as entidades fizeram com o dinheiro recebido, já que atuam como filantrópicas. Tambara confirmou que vai nomear o interventor e pode conceder entrevista coletiva nas próximas horas.

Fonte: Polícia Civil/Federal

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