(João Lemes) Nem a simbólica Sexta-Feira Santa foi suficiente para deter a violência contra as mulheres. Neste 18 de abril de 2025, seis feminicídios foram registrados em diferentes cidades do estado, revelando uma realidade brutal e alarmante que não pode mais ser ignorada.
Essas histórias, que deveriam ser sobre esperança e renovação, tornaram-se retratos de uma sociedade que falha em proteger suas mulheres. Foram seis vidas interrompidas, seis histórias marcadas pela dor e pela violência, deixando famílias destruídas e, muitas vezes, crianças órfãs.
Apenas uma das seis vítimas tinha medida protetiva de urgência contra o suspeito.
Parobé: a vida que não chegou a nascer
No início da madrugada, em Parobé, no Vale do Paranhana, Caroline Machado Dorneles, de apenas 25 anos, foi brutalmente assassinada a facadas. Grávida, ela carregava não apenas sua própria vida, mas a de um futuro que nunca se concretizou. O crime ocorreu na Rua 15 de Março, no bairro Morada do Funil. O assassino? Seu ex-companheiro, que fugiu após o ataque. Três golpes de faca foram suficientes para tirar a vida de Caroline e de seu bebê. Um duplo assassinato que deixou uma marca profunda na comunidade e uma pergunta que ecoa: até quando?
Feliz: uma dupla tragédia

Ainda na madrugada, em Feliz, no Vale do Caí, um crime chocou os moradores. Raíssa Müller, de 21 anos, e seu companheiro, Éric Richard de Oliveira Turato, de 24, foram mortos com golpes de faca na cozinha de sua casa. O autor do crime? Vinicius Britz, ex-namorado de Raíssa, que não aceitava o fim do relacionamento. Um ato de possessão e ódio que terminou com a prisão do agressor, encontrado ferido na piscina da residência. Mais duas vidas ceifadas por uma violência que insiste em se repetir.
São Gabriel: degolada na Fronteira Oeste
Na tarde dessa mesma sexta-feira, o horror se repetiu em São Gabriel, na Fronteira Oeste. Próximo ao posto Brandão Júnior, na Rua Alcides Meia, bairro Vila Lima, uma mulher foi degolada pelo ex-companheiro. O autor do crime foi detido, mas a prisão não traz de volta a vítima nem alivia a dor de quem ficou.
Outros casos
Em Viamão, Bento Gonçalves e Santa Cruz do Sul, mais três mulheres perderam suas vidas de forma brutal, todas vítimas de seus parceiros ou ex-parceiros. Cada uma dessas histórias carrega um peso insuportável, uma ausência que será sentida para sempre por aqueles que as amavam.

No país que ocupa o 5º lugar em feminicídios no mundo, ser mãe é um fator de risco.
🔪 Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 80% dos casos de tentativa de feminicídio com faca ou arma de fogo, a vítima era mãe — muitas vezes, com os filhos assistindo à agressão.
⚖️ Além disso, mães que pedem proteção contra agressores acabam sendo tratadas como “alienadoras” nas varas de família, correndo o risco de perder a guarda dos filhos.
Mais de 70 feminicídios e 30 crianças órfãs: é hora de agir
Esses casos não são isolados. Em 2024, o RS registrou mais de 70 feminicídios. Mais de 30 crianças perderam suas mães para a violência de gênero. Mulheres que deveriam estar seguras em suas próprias casas são assassinadas por aqueles que um dia disseram amá-las.
Os números são frios, mas a realidade é devastadora. Caroline, Raíssa, Éric, e tantas outras vidas perdidas não podem ser apenas estatísticas. Algo precisa ser feito, e com urgência.
Políticas públicas de prevenção, proteção e acolhimento às vítimas de violência doméstica precisam sair do papel. A educação sobre igualdade de gênero deve ser prioridade desde a infância. E, acima de tudo, a sociedade precisa romper com a cultura de machismo e controle, que alimenta esses crimes.
Não podemos mais tolerar que mulheres sejam vistas como propriedade. Não podemos aceitar que medidas protetivas sejam ignoradas ou que o medo cale as vítimas. É hora de transformar a indignação em ação.
Seis feminicídios em um único dia. Mais de 70 no ano passado. Não podemos esperar o próximo número. Essas vidas importam, e precisamos lutar para que sejam as últimas.
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