Os novos contêineres de lixo instalados em Porto Alegre, projetados para impedir a ação de catadores irregulares antes que os resíduos cheguem aos galpões de reciclagem, mal começaram a ser usados e já expõem uma triste realidade. Em menos de 72 horas, imagens flagraram pessoas revirando o lixo e se submetendo a condições degradantes na tentativa de encontrar algo de valor.
O registro, compartilhado pelo perfil “Bairro Menino Deus” (@meninodeuspoars), gerou impacto e trouxe à tona um problema que vai muito além da organização dos resíduos urbanos. A cena remete ao poema “O Bicho”, de Manuel Bandeira, escrito em 1947, mas que continua atual: a fome e a miséria transformam seres humanos em sobreviventes do lixo.
A questão dos catadores informais e da população que vive da coleta de materiais recicláveis não pode ser resolvida apenas com barreiras físicas. O problema é social e humano. Sem políticas públicas eficazes para garantir acolhimento, trabalho e dignidade a essas pessoas, as lixeiras seguirão sendo apenas obstáculos a mais em suas duras rotinas.
A intenção da prefeitura pode ser válida, mas sem um trabalho social estruturado, o ciclo se repete. Enquanto houver fome, enquanto houver desamparo, o “bicho” do poema seguirá sendo um homem, uma mulher, uma criança – e tantos outros que dependem do lixo para sobreviver.
Artigo da Juliana Bublitz (GZH)
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