O estado enfrenta uma grave situação devido às fortes chuvas ocorridas na última semana. Além das mortes e transtornos em várias regiões do estado, há preocupação com o risco de doenças, como leptospirose, hepatite A, cólera e tétano, devido à limpeza em áreas inundadas.
O Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) emitiu um comunicado alertando sobre os perigos de transmissão de leptospirose e acidentes com animais peçonhentos em locais alagados. Marcelo Vallandro, diretor-adjunto do Cevs, ressalta a importância de usar equipamentos de proteção durante a limpeza para evitar contaminação.
A presença de entulhos aumenta o risco de acidentes e picadas de escorpiões, aranhas e cobras, que costumam procurar abrigo em locais secos durante as chuvas. Além disso, doenças respiratórias são esperadas devido à umidade, especialmente em abrigos onde as pessoas afetadas se reúnem, causando aglomeração.
Leptospirose
A leptospirose é uma preocupação principal em áreas afetadas por inundações. Causada por uma bactéria presente na urina de roedores, como ratos e ratazanas, a doença se espalha quando as chuvas acima do normal inundam rios, córregos e sistemas de esgoto, contaminando a água. Além dos roedores, outros animais como bois, porcos e cães também podem transmitir a doença. Os sintomas incluem febre, dor de cabeça, dores musculares, vômito, diarreia e tosse.
O infectologista Paulo Gewehr do Hospital Moinhos de Vento enfatiza a gravidade da leptospirose, destacando a falta de vacina como medida preventiva. Ele recomenda o uso de botas, luvas e evitar o contato com a água contaminada. Embora a vacinação seja crucial, leva algumas semanas para ser eficaz, então sua utilidade em situações agudas como inundações é limitada. No entanto, ele enfatiza que a atualização vacinal é essencial tanto para o dia a dia quanto para emergências como essa.
Cuidado com alimentos e água
É preciso redobrar os cuidados com alimentos e água para evitar problemas, frisa o diretor-adjunto do Cevs:
— A gente sabe a situação de escassez em que as pessoas estão, mas elas precisam ter cuidados para minimizar danos. Ao comer qualquer coisa e tomar qualquer água, tem a possibilidade de ter doenças transmitidas, como infecções gastrointestinais.
Vallandro reforça que as pessoas com dificuldades busquem abrigos, que estão recebendo diversas doações.
— É para ter alimentos lá de uma melhor qualidade, porque, às vezes, a pessoa pode querer reaproveitar os que tiveram contato com águas contaminadas, e há grande chance de estarem contaminados. Eles devem ser descartados — ressalta.
Cuidados com a água
A água disponível à população em municípios atingidos por enchentes precisa ser avaliada, pois pode conter microrganismos causadores de diversas doenças. Por isso, deve ser confiável, sem ter tido contato com a água da chuva. É importante consumir água potável, fervida ou tratada com hipoclorito de sódio.
- Filtre a água utilizando filtro doméstico. Caso não seja possível, utilizar coador de papel ou pano limpo
- Na impossibilidade de filtrar ou coar, reserve ou coloque a água em um vasilhame limpo e deixe a sujeira decantar (descer até o fundo do vasilhame) até que a água fique transparente. Em seguida, separe com cuidado a água limpa, coloque em outra vasilha limpa e realize a desinfecção com água sanitária (solução de hipoclorito de sódio a 2,5%)
- Coloque duas gotas de água sanitária para um litro de água para inativação/eliminação de microrganismos que causam doenças
- Aguarde 30 minutos para beber a água, tempo necessário para o hipoclorito eliminar os microrganismos presentes na água
- Caso observe alguma alteração na água da torneira (como odor e/ou coloração diferente do habitual) entre em contato com a empresa de saneamento responsável pela distribuição e/ou a secretaria de saúde do seu município
Cuidado com alimentos
Após uma enchente ou inundação, é possível que os alimentos não estejam em condições adequadas para o consumo. Produtos contaminados podem causar diarreia, vômito, febre e, em casos mais graves, levar à morte. É importante evitar alimentos crus e mal lavados ou mal higienizados e dar preferência aos cozidos, assados e que estão em pacotes fechados.
Não devem ser consumidos:
- Alimentos com cheiro, cor ou aspecto fora do normal (úmido, mofado, murcho)
- Alimentos como leite, carne, peixe, frango e ovos, crus ou malcozidos, principalmente aqueles que entraram em contato com a água de enchente
- Frutas, verduras e legumes estragados ou escurecidos que entraram em contato com a água de enchente
- Alimentos cozidos ou refrigerados que tenham ficado por mais de duas horas fora da geladeira, principalmente carne, frango, peixe e sobras
- Alimentos com embalagem em plástico (garrafas PET, leite em saco, grãos ensacados) que tiveram contato com água da enchente devem ser descartados, mesmo que não tenham sido abertos
- Alimentos com embalagens em latas, plásticos e vidros que apresentem sinais de alteração, como inchaço, esmagamento, vazamento, ferrugem, buracos, tampas estufadas ou outros danos devem ser descartados, mesmo que não tenham sido abertos


