São Paulo – SP – O Brasil tem mais de 93 mil farmácias, o equivalente a uma para cada 2 mil habitantes. O número, revelado por dados de 2025, mostra que a expansão vai muito além da simples oferta e demanda. O país vive uma saturação planejada, sustentada por lucros altíssimos, coleta de dados, fraudes milionárias e lobby político. Em duas décadas, o total de drogarias cresceu 63%, e o Brasil se tornou o nono maior mercado farmacêutico do mundo.
A lógica do mercado e o poder da conveniência
A base desse império está na cultura de automedicação e no consumo imediato. O brasileiro compra remédios com frequência e confia no farmacêutico quase tanto quanto no médico. Segundo o Fatos Desconhecidos, o setor movimenta mais de R$ 150 bilhões por ano. Mesmo em crises, o lucro cresce. Em 2016, quando o PIB caiu 3,6%, o ramo farmacêutico avançou 18%. A estratégia é ocupar o máximo de espaço possível — o que explica farmácias lado a lado nas mesmas ruas. Como resume um representante da Drogasil: “cinco passos fazem diferença”.
As franquias e a diversificação que mantêm o caixa cheio
Com investimento inicial a partir de R$ 500 mil e lucro de até 20%, o modelo de franquias atrai investidores de todo tipo. A lei permite que qualquer pessoa tenha uma farmácia, desde que contrate um farmacêutico responsável. Além disso, o setor se reinventou. Hoje, farmácias funcionam como mini shoppings: vendem cosméticos, alimentos e até produtos de conveniência. Essa diversificação garante fluxo constante e independência da venda exclusiva de remédios.
Os descontos que custam caro: a venda dos dados pessoais
A prática de pedir CPF para dar desconto virou rotina. Mas o “benefício” esconde o verdadeiro produto: os dados do cliente. Ao registrar o CPF, a farmácia descobre hábitos de saúde e consumo — de fraldas a antidepressivos. Com isso, cria campanhas personalizadas e pode até alimentar bancos de dados usados por outras empresas. Juristas alertam para riscos à privacidade, já que não há clareza sobre o destino dessas informações, o que pode violar a Lei Geral de Proteção de Dados.
As fraudes e o uso criminoso das drogarias
Em julho de 2025, a Polícia Federal desmantelou um esquema de R$ 9 milhões que usava farmácias fantasmas para desviar recursos do programa Farmácia Popular. Em Águas Lindas (GO), duas drogarias fictícias receberam meio milhão de reais do governo com receitas falsificadas e CPFs roubados. As investigações mostraram que o dinheiro era lavado e revertido até para o tráfico de drogas. O caso expôs como a alta lucratividade e a facilidade de abrir uma drogaria atraem o crime.
O lobby que domina Brasília
O poder do setor não termina nas prateleiras. A indústria farmacêutica financia campanhas políticas e influencia leis. Um levantamento mostrou que, em 2019, empresas do ramo doaram R$ 13,7 milhões a 356 candidatos — a chamada “bancada dos medicamentos”. A influência se estende ao Congresso, onde projetos de interesse das redes e laboratórios são defendidos em bloco. Como define o pesquisador Jorge Bermudez: “O interesse da indústria não é a saúde, é o lucro”.
A multiplicação das farmácias é sinal de eficiência ou de um sistema viciado? E até que ponto o CPF no balcão é apenas uma estratégia de marketing? A resposta pode estar na próxima esquina.
Fonte: Fatos Desconhecidos, Brasil Journal, Veja e Agência Brasil.
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